Compulsão por compras (oniomania): o que é, sintomas e tratamentos

Oniomania, ou transtorno de compulsão por compras, diz respeito ao comportamento de gastar quantias exorbitantes em produtos muitas vezes desnecessários, que podem extrapolar o orçamento mensal da pessoa.

Comprar compulsivamente costuma levar a endividamentos, perder contato com familiares e amigos e se colocar em situações de risco diversas, como adquirir dívidas com agiotas ou ser detido.

Além disso, é frequente que esse diagnóstico esteja associado a outros transtornos, como ansiedade e depressão, dependência química ou problemas familiares relacionados.

Causas da compulsão por compras

Da mesma maneira que outros comportamento aditivos, como vício em jogos, em redes sociais e em disposição para furtar (cleptomania), no comprador compulsivo é ativado o sistema de recompensa cerebral: a cada vez que a pessoa realiza o ato de comprar é gerada uma sensação de prazer com alta descarga de dopamina e de outros neurotransmissores no organismo que reduzem a ansiedade, levando a um estado mais sereno.

A compulsão é, portanto, de raízes neurológicas e culturais, já que o transtorno costuma ser mais observado em países industrializados ou com mais acesso a bens de consumo.

Descrição clínica

Segundo alguns autores, o comportamento de compras pode ser dividido em 4 fases: antecipação, preparação, realização e gastos.

• Na primeira fase, há o surgimento de uma urgência, de pensamentos e sentimentos segundo os quais é necessário realizar a compra. A pessoa geralmente elabora justificativas para comprar um produto ou serviço.
• Na segunda fase, a pessoa decide como irá se vestir, em qual lugar irá realizar a compra, quais cartões de crédito irá usar e assim por diante.
• Na terceira fase, o ato de comprar é realizado e costuma ser acompanhado de um sentimento de euforia e gozo.
• Por fim, a última fase diz respeito ao pós-compra, em que há relatos de alegria e completude, mas também de sentimentos negativos: decepção consigo mesmo, tristeza e culpa.

Dessa forma, o que ocorre é um aprendizado do comportamento de compras: quanto mais a pessoa compra, mais feliz ela se sente naqueles momentos, levando-a a comprar mais vezes.

Quando a rotina de compras torna-se um hábito frequente, consumindo tempo e recurso, é necessário pensar em uma intervenção clínica.

Atuação e mapeamento do comportamento

Assim como em outros transtornos, rastrear o que leva as pessoas que compram a gastarem exageradamente, bem como mapear em quais momentos há a ativação do comportamento de risco, auxilia na construção de estratégias de enfrentamento.

Não ir a locais onde a pessoa compra com mais frequência é altamente recomendado, já que isso leva a pessoa a se expor a situações de alto risco em que a possibilidade de controlar o impulso pelas compras é menor.

Vale também perceber em quais períodos emocionais o comportamento de comprar ocorre, pois isso ajuda a elaborar estratégias de prevenção (por exemplo: fazer compras após um dia cansativo de trabalho).

Sintomas de compulsão por compras

Os principais sintomas de compulsão por compras incluem, mas não estão restritos a:

• O sentimento de ansiedade antes da compra e alívio após a sua realização;
• Extrapolar o orçamento mensal com produtos e serviços desnecessários;
• Solicitar dinheiro para parentes ou terceiros para adquirir bens e produtos ou sanar dívidas;
• Descontrole financeiro frente ao comportamento, isto é, mesmo sabendo dos riscos de comprar, a pessoa realiza o ato mesmo assim;
• Prejuízo ao próprio bem-estar patrimonial e emocional e ao bem-estar de familiares e pessoas próximas;

Se notar a presença de alguns destes sintomas, é importante consultar um profissional de saúde mental para que haja o mapeamento clínico. Dessa forma, será possível traçar um plano de ação para enfrentar essa compulsão.

Tratamento para compulsão por compras

A literatura costuma descrever que tanto a terapia individual como a terapia em grupo são ferramentas cruciais para o delineamento do problema e de suas soluções.

A terapia em grupo geralmente costuma ter outros membros que sofrem do mesmo problema e que, por meio do compartilhamento de suas experiências, servem de suporte para quem luta contra essa compulsão.

O aprendizado de técnicas na terapia cognitivo comportamental individual também previne e reduz a frequência do comportamento. Além disso, o uso de conceitos de saúde financeira, como o acompanhamento de gastos mensais e auto-monitoramento da própria pessoa favorecem a identificação dos momentos de gasto e como isso afeta o orçamento individual.

Pensar em estilos de vida em que o consumismo não seja algo tão central também é apontado por especialistas como um recurso para reduzir os gastos, o que leva a refletir sobre alterações do estilo de vida financeira de quem sofre.

Por fim, o uso de medicamentos para auxiliar no ajuste do sistema dopaminérgico pode ser levado em consideração pela equipe clínica de quem acompanha o caso.

Ou seja, a compulsão por compras tem maior potencial de resolução quando é ativada uma rede de monitoramento e acompanhamento do transtorno, o que oferece mais segurança para quem sofre.

Quando o problema interfere na vida de quem sofre ou na vida de outras pessoas ao redor, é fundamental buscar auxílio clínico como forma de compreender e sanar essa questão.

Referências:

• http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2001/espaco07abr/editorias/comportamento.htm
• https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6760427/pdf/arh-23-2-151.pdf
• https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1805733/pdf/wpa060014.pdf

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