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Dependência química: o que é, causas e tratamento

O transtorno por abuso de substância, popularmente conhecido como dependência química, diz respeito a uma série de alterações comportamentais, fisiológicas e cognitivas oriundas do uso constante e compulsivo de uma ou mais substância aditiva.

Tais alterações geram prejuízos globais para a pessoa, levando-a a desenvolver problemas pessoais, familiares e sociais.

O uso continuado leva organizações como a Organização Mundial de Saúde (OMS) a classificarem a dependência química como uma doença crônica, isto é, com múltiplas causas para o seu surgimento e que requer um acompanhamento constante, exigindo mudanças no estilo de vida e nos padrões de consumo.

O transtorno por abuso de substância, portanto, possui duas marcas: tolerância e dependência. A tolerância é causada pela adaptação do organismo ao jogo químico da droga, ou seja, para sentir o mesmo efeito das primeiras vezes de uso é necessário utilizar quantidades cada vez maiores da substância. 

A dependência, por sua vez, diz respeito à necessidade de utilizar para não sentir efeitos de abstinência que são provocados, também, pelas alterações neuroquímicas do uso. Alguns dos sintomas de abstinência são ansiedade, enjôos, irritabilidade, sudorese, dores musculares, mal-estar e dor de cabeça. Em alguns casos, abusos intensivos podem levar a casos de overdose e morte.

Ou seja, a dependência química é um transtorno psiquiátrico e psicológico que requer a articulação de inúmeros agentes para que haja eficiência e progresso no tratamento, mobilizando aspectos sociais, individuais, familiares e farmacológicos.

Causas da dependência química

Por ser uma doença multifatorial, existem diversos fundamentos genéticos, ambientais e de desenvolvimento individual que levam à progressão contínua do uso. 

A articulação entre esses diferentes aspectos determina a facilidade ou a dificuldade que uma pessoa terá para desenvolver o transtorno. Além disso, é complexo determinar apenas uma causa para o desenvolvimento da doença, em geral, acontecimentos e experiências individuais proporcionam as bases para que uma pessoa desenvolva um apego por determinada substância. 

Vale notar que aspectos culturais e de pertencimento também são cruciais para entender os padrões de uso e de manutenção do vício.

Desenvolvimento da doença

As substâncias de abuso são variadas, e seus efeitos, diversos. O transtorno pode ser iniciado por uma série de substâncias, mas cabe mencionar o álcool, tabaco, cocaína, benzodiazepínicos, crack e maconha como algumas das drogas mais conhecidas e manipuladas.

Cada substância possui um sistema de ação diferente, isto é, algumas são, por exemplo, de caráter estimulante, já outras possuem função depressora, mas todas atuam no sistema nervoso central, sobretudo no circuito dopaminérgico, provocando, nas primeiras vezes de uso, uma sensação de bem-estar, pertencimento, alegria, etc.

A droga, ao interferir na balança homeostática do organismo, ou seja, no equilíbrio de funcionamento interno, provoca alterações de curto, médio e longo prazo. 

O uso contínuo de uma droga, nesse sentido, propicia o surgimento de sequelas como perda de memória, atenção desviada, aumento das chances de desenvolvimento de câncer, delírios, paranóia, e assim por diante. 

Ou seja, o ônus do uso da droga costuma ser global, interferindo em diversos aspectos da vida da pessoa.

A dopamina, principal neurotransmissor associado aos estudos do transtorno por uso de substância, é uma molécula responsável, dentre outras funções, por gerar sensação de bem-estar e prazer no organismo, em um processo de recompensa e aprendizado. 

Em indivíduos que não desenvolveram dependência química, o sexo, comida e sono são alguns dos processos diretamente vinculados ao disparo de dopamina no cérebro. Contudo, quando as moléculas de uma droga interagem com os neurônios, modificando o disparo de dopamina e de outros neurotransmissores, há o desenvolvimento de novas redes de aprendizado e recompensa em que a droga passa a ser um protagonista ativo. 

Estudos indicam que a sobriedade é uma das formas de promover um reequilíbrio homeostático interno.

Tratamento

Pelo grau de complexidade do transtorno, o tratamento para dependência química deve mobilizar diferentes profissionais que, atuando em rede, auxiliam na reabilitação.

No campo da psicologia, a psicoterapia individual, em grupo e familiar são ferramentas importantes para gerar repertório sobre a doença, bem como enfatizar novas formas de pertencimento e acolhimento.

Os atendimentos psiquiátricos, por sua vez, também são importantes por monitorarem a necessidade de suporte farmacológico e delimitar planos de ação em casos de recaída e durante a sobriedade. O uso de fármacos auxiliam no controle dos sintomas comuns à sobriedade, como aumento da ansiedade, prejuízos ao sono, dentre outras questões.

Já a criação de um plano de ação ajuda na criação de novas rotinas, fortalecimento de novos hábitos saudáveis e construção de redes comunitárias em que a premissa do uso não seja algo natural.

Ou seja, o tratamento para dependência química não age apenas sobre a pessoa que sofre da doença, mas envolve uma mudança de contextos e hábitos, de forma que o padrão de consumo seja eliminado.

FAQ – Perguntas frequentes

O que e dependência química?

A dependência química é um transtorno psiquiátrico marcado pelo uso abusivo e compulsivo de uma ou mais substâncias que possuem efeitos prejudiciais ao organismo, levando ao desenvolvimento de dependência e tolerância, prejudicando integralmente o bem-estar da pessoa, membros do círculo familiar e a sociedade como um todo.
Ou seja, há uma adaptação do organismo aos estímulos químicos proporcionados pela droga ilícita ou lícita, de escolha da pessoa, que leva a danos em inúmeras esferas.

O que é considerado dependência química?

A pessoa que sofre desse transtorno deve ser diagnosticada por um profissional competente, porque os marcadores para a doença devem se basear em experiência clínica, testes psicológicos e métricas psiquiátricas específicas.
Além disso, padrões de consumo, frequência de uso e alterações comportamentais atípicas também são fortes indícios para dependência química.

Como tratar dependência química?

O transtorno por uso de substância é uma doença complexa que exige mobilização ativa do paciente e da equipe, demandando, em alguns casos, acompanhamento integral e adaptações do modo de vida de forma a romper com os padrões de uso.
Para tanto, profissionais como psicólogos, psiquiatras e outros profissionais da saúde são fundamentais para oferecer um direcionamento especializado durante o período de remoção da substância e de engajamento na abstinência.

Pedro Lucas Oliveira

Estagiário em psicologia, em formação pela USP.

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