O transtorno de personalidade borderline é caracterizado pela presença de padrões de pensamentos e comportamentos que remetem a um desequilíbrio emocional sensível, dificuldade em construir e manter relacionamentos, percepção instável e depreciativa de si e dos outros, dificuldade para tomar decisões racionais, além de alterações de humor repentinas.
É importante notar que um transtorno de personalidade se define a partir do ambiente cultural em que a pessoa se insere. O transtorno geralmente destoa de práticas e expectativas dessa mesma sociedade, assim favorecendo o surgimento de padrões de pensamento e comportamento pessoais de longa duração que leva a estados patológicos de sofrimento e isolamento em relação aos outros.
Tais características constituem uma série de prejuízos para a pessoa, desde o nível emocional até à manutenção de vínculos afetivos com familiares, amigos e em outras dimensões sociais, como no trabalho ou na escola.
O transtorno borderline, isto é, personalidade limítrofe, costuma ter início na adolescência ou no ingresso à vida adulta, e algumas de suas principais característica e sintomas do transtorno envolvem um medo latente ou expressivo de abandono pelos outros, engajando-se em relacionamentos voláteis, marcados por períodos de extrema idealização e períodos de depreciação e distanciamento.
Em algumas horas, a pessoa deseja ardentemente ter o outro por perto, em outras, quando sente que algo não lhe agrada, tende a se distanciar ou investir em comportamentos de evitação.
Estes movimentos costumam ser marcados por uma expectativa irreal de que o outro supra as demandas da pessoa, e quando isso não é realizado, a pessoa se julga como má ou pouco relevante em um relacionamento. Há também um forte receio de rejeição, o que leva a pessoa a se adequar ao outro, ocasionando em mudanças perceptivas de gostos, mudança da rotina e envolvimento em diversas atividades.
Paralelo a esses aspectos, há uma autopercepção desajustada em que a pessoa não tem importância o suficiente para si ou para os outros. Relata um sentimento de vazio interno que não pode ser preenchido, uma tendência impulsiva para engajar em comportamentos de alto risco, como automutilação e manejo de práticas suicidas frente ao vazio pelo qual é tomada.
Isso proporciona uma volatilidade afetiva marcada pela reatividade: momentos de irritação e ansiedade seguidos de isolamento e depressão, além de episódios de agressão interpessoal que costumam ser frequentes neste diagnóstico.
Ou seja, os períodos de raiva não moderada e a dificuldade em controlar e expressar sentimentos de modo não agressivo são atributos muito comuns em pessoas com este transtorno de personalidade.
Ameaças dirigidas a parceiros ou familiares, mensagens violentas e vontade de romper relações, seja no trabalho ou em outras esferas e atividades são também indícios bastante presentes como forma de movimentar o sentimento interno de rejeição e o medo de abandono, sobretudo quando se sentem negligenciados ou descuidados.
Segue a isso também padrões compulsivos atrelados aos estados emocionais, como envolver-se em sexo inseguro, gastar mais dinheiro do que se deve, endividar-se, usar abusivamente drogas e outras substâncias nocivas, participar ativamente de jogos de azar e assim por diante.
Eventualmente, a disforia, isto é, momentos depressivos e de isolamento quando as expectativas pessoais não são atendidas são observados em pessoas com personalidade limítrofe, o que determina a volatilidade emocional que marca este transtorno. Em casos graves ou com ausência de tratamento, a manifestação de comportamento suicida nos períodos de disforia pode levar a consequências dramáticas.
Neste transtorno, o suicídio é presente entre 8% a 10% dos casos. Já automutilações e violências autodirigidas (como, por exemplo, dirigir acima do limite de velocidade, prender a respiração embaixo da banheira por longos períodos, ou consumir drogas até atingir overdose) são traços frequentes.
Os fatores que levam ao desenvolvimento deste transtorno de personalidade não foram amplamente mapeados e ainda há muito a se pesquisar. Contudo, pesquisas indicam que a prevalência do transtorno costuma ser maior quando há a presença do transtorno entre outros membros familiares, além da presença de outras descrições psicopatológicas, como bipolaridade, depressão aguda, uso abusivo de substâncias, transtorno de pânico e assim por diante em familiares de primeiro grau, como pai, mãe e irmãos.
Em termos neurológicos, por sua vez, os autores argumentam que pessoas com este transtorno possuem alterações em áreas cerebrais responsáveis pela regulação emocional e cognitiva, bem como em regiões especializadas na tomada de decisão e de comportamento impulsivo.
Ou seja, há fortes indícios de que além de experiências individuais marcantes para o desenvolvimento deste traço de personalidade, como estresse pós-traumático, relacionamentos abusivos e histórico familiar de vulnerabilidade, fatores genéticos também atuam na constituição e manutenção dos circuitos cerebrais de regulação cognitiva e comportamental.
Em termos populacionais e culturais, é digno de nota que a manifestação deste transtorno é mais frequente entre a população feminina (75% dos casos clínicos registrados), além de ser observado em diferentes lugares pelo mundo.
Os tratamentos psicoterápicos cognitivo-comportamentais ou dialético-comportamentais são indicados para personalidade limítrofe. Isso porque o contato com experiências emocionais acessadas através da terapia, além do favorecimento de um vínculo terapêutico auxiliam na identificação de crenças pessoais desajustadas sobre si e na identificação e alteração de comportamentos de alto risco, seja a nível pessoal ou relacional.
O controle das intensidades emocionais e a mobilização de práticas mais racionais na tomada de decisão para a personalidade limítrofe favorecem a redução da sensibilidade aguda em casos em que a pessoa se sente abandonada ou desajustada no meio em que se encontra.
Um trabalho voltado para a prática da comunicação interpessoal não violenta também pode favorecer, na medida em que reduz as possibilidades da pessoa romper relacionamentos em períodos de estresse ou raiva intensos, ajudando na tomada de decisão racional e ajustando as expectativas quanto a si e quanto aos outros.
Não só, práticas de psicoeducação, geralmente orientadas para a resolução de problemas e mapeamento de estados emocionais prejudiciais auxiliam a lidar com momentos de ansiedade, estresse e disforia oriundos do transtorno. Em casos críticos, intervenções psicológicas voltadas para acolhimento diante de práticas suicidas podem ser mobilizadas.
Vale notar que tratamentos farmacológicos guiados por um médico psiquiatra podem ser iniciados a depender da gravidade do caso, o que favorece a potencialização dos efeitos da psicoterapia. Além disso, hospitalização e internação em períodos de baixa ou frente a ameaças de suicídio podem ser acionados pela comunidade médica.
Em caso de dúvidas, entre em contato com um profissional de saúde a fim de mapear se há a existência de estados emocionais que levam a um sofrimento patológico.
O transtorno de borderline está presente no manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-V) como um dos tipos de transtorno de personalidade.
Pode ser definido, a grosso modo, como um conjunto de características de personalidade que são constantes ao longo da vida e que costumam iniciar na adolescência e vida adulta e que são diretamente marcadas por mudanças súbitas de
humor, medo de abandono, dificuldade em construir e manter relacionamentos e possibilidade de engajar-se em comportamentos de alto risco.
Em quadros graves do transtorno, a prática suicida é algo observado pelas pesquisas e prática clínica, o que indica a importância de realizar um acompanhamento psicológico e psiquiátrico a fim de propor alternativas para lidar com estados emocionais prejudiciais.
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